<$BlogRSDUrl$>

Monday, October 25, 2004

O Lance Capital
(Thales)

Sobre o clássico gostaria apenas de registrar algumas notas.

Fomos o Billy e eu ao Mineirão. Na chegada ao estádio cada um vai pro seu lado e, como de costume, ao término do clássico nos encontramos no primeiro bar depois do hall principal (lado dos derrotados, sempre). Ao nos encontrarmos após o jogo, o primeiro comentário não foi sobre o placar, e sim sobre o chute de Jussiê que explodiu contra a trave de Danrley, fiquei surpreso de, mesmo estando cada qual do seu lado, termos escolhido aquela jogada como o lance capital da partida. Confesso que apesar de eu ter visto a bola se chocar contra o poste, eu não acreditava no que via, a imagem colada à minha retina era a do barbante sendo estufado e o lado azul explodindo na celebração do momento maior. E foi só quando, um segundo depois, ouvi o "uuuuuuhhhhhhh" retumbante, que realmente acreditei que a bola não havia entrado. Nesse instante não tive mais qualquer dúvida sobre quem sairia vencedor do Gigante da Pampulha. Uma bola na trave pode significar apenas o prolongamento da dor, o último prenúncio antes da queda definitiva da bastilha, mas também pode significar que, haja o que houver, a bastilha resistirá aos ataques mais tempestuosos.

Eu assistia ao jogo de pé, após a última fileira de cadeiras, no momento em foi assinalado o terceiro tento, corri em direção à grade que separa os diversos setores das arquibancadas e trepei nas barras de ferro como se eu fosse o próprio autor do gol que se dependura no alambrado. Aliás, eu era o autor do terceiro gol, dez mil atleticanos que subiam pelas paredes foram autores do gol. Assim que desci, voltei ao meu lugar. A torcida ainda celebrava, e pouco depois, os dez mil artilheiros das arquibancadas se puseram a entoar o hino, e ao meu lado, um rapaz não cantava, apenas chorava, não era um choro copioso e catártico, muito menos o choro pela fuga do rebaixamento, ele chorava diante da beleza do espetáculo proporcionado pela massa insandecida, eu sabia, pois era a mesma beleza que me deixava arrepiado e me fazia querer cair de joelhos, como o pecador diante do próprio Cristo. Esse foi o momento da comunhão divina, mas se me perguntarem o que mais me marcou, diria sem hesitar, "a bola na trave do Jussiê".


PS: Comentários do policial sarcástico que conversava com a gente enquanto acompanhávamos do alto a confusão na saída dos ônibus:

"Torcedor é muito imbecil, alguns só voltam felizes pra casa depois que apanham, tsctsctsc..."

"Vê se eu ia largar minha família em casa pra ficar no meio desse povo!"

Friday, October 08, 2004

UM ESTRANHO NO NINHO
Billy

Num misto da mais absoluta falta do que fazer com a paixão irrestrita, irracional e cega pelo esporte bretão (I love this game!), acompanhei o Thales ao Independência, para assistir Atlético-MG e Guarani. Como se não bastasse ser um jogo do arqui-rival, tratava-se do embate entre o então 22º contra o 24º lugar do Campeonato. Sim, amigos, estava preparado para uma antológica pelada entre o antepenúltimo contra o último.

E vi a dor nos olhos do combalido. A dor e o desespero. O atleticano é um sofredor nato. Sei que TODO torcedor de futebol é um sofredor, mas alguns trazem um traço mais profundo de desamparo e angústia. É o caso do pardo, magro e pobre atleticano. Mas, mesmo desconfiado com o time, cantava o hino do clube. Discretamente no início e a plenos pulmões mais adiante, quando o placar já era favorável. Estivesse o Cruzeiro situado na zona de rebaixamento, já entraria em campo debaixo de pornográfica vaia. Foi a primeira vez que assisti a um jogo do Atlético-MG, sentado na arquibancada alvinegra, e confesso que me diverti mais comparando a diferença de comportamento entre as torcidas. Nem fiquei tão preocupado em torcer contra.

O Atlético-MG fez 3 gols seguidos na primeira metade do jogo e parecia ter liquidado a fatura. Mas levou dois gols no segundo tempo e um sufoco no final.

Em verdade, temi pelo pior no fim do jogo. Não estava com as mãos no bolso a comemorar os gols do Guarani. Estava com medo da eventual e possível ira da torcida. Se o Guarani empatasse o jogo no final, o que por pouco não aconteceu, e eu, notório e orgulhoso cruzeirense, fosse desmascarado ali, em plena arquibancada rival, certamente não estaria aqui agora contando história. Nem estória.

Algumas conclusões.

Conclusão ludopédica: Se Rodrigo Fabri, Renato, Alex Mineiro e Rubem Cardoso jogarem medianamente, o time não será rebaixado. O que é uma pena. Adoraria ver esta mácula na história do Atlético-MG, mesmo que tornasse à elite no ano seguinte. O Guarani já era. Podem fechar o caixão.

Conclusão antropológica: O atleticano é um brasileiro. Na melhor e na pior definição do termo. Sofreu até o final. Sem desistir. E na volta pra casa, comeu feliz o cachorro quente da esquina, por R$1,00, com direito a um copinho 200 ml. de tubaína grátis.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?