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Monday, February 28, 2005

UP MY ASS
Lessa


“Trinta minutos ou dois gols”, eu disse ao cruzeirense que estava comigo, assim que foi dado o pontapé inicial para América e Cruzeiro, no último domingo.

Minha desculpa para não ter que assistir ao iminente massacre era o superclássico Milan e Inter, que começaria às 16:30.

Mas o cruzeirense queria ver, pelo menos, um pouco da partida.

Todo cruzeirense traz consigo uma ponta de sadismo.

E todo cruzeirense tinha as bochechas bem infladas aos 22 minutos, quando já perdíamos por 2 a 0.

Eu sabia o que estava por vir, mas a minha expressão era a de quem finge não sofrer, embora uma pequena lágrima me escorresse do canto do olho esquerdo.

A sogra, de sua simpática parte, percebeu o contraste – de um lado o filho cruzeirense muito alegre e, do outro, o genro americano aparentemente desinteressado - e disse:

“Você não gosta de futebol, né, Lessa?”

E eu:

“Como?”

“Você finge que torce pro América, mas não dá pra torcer pra um time desse.”

“Hã?”

“Você não sofre.”

“QUÊ?”

“Não liga, não sofre, não torce.”


Olhei-a revoltado, mas resolvi silenciar.

Não respondi, simplesmente.

Se ela tivesse a mais vaga idéia do quanto eu sofria assistindo àquele jogo, teria ficado calada, poupando-me assim de outro aborrecimento na minha vida miserável de americano.

A esse propósito – o da miséria da alma -, sentamos outro dia eu, dois atleticanos e um cruzeirense, e narramos as maiores decepções que já tivemos com o futebol.

Um atleticano citou o Brasiliense, o outro, a Portuguesa. O Cruzeirense falou de um brasileiro, o de 1999, em que o rival alvinegro venceu os dois primeiros jogos de uma disputa que era pra ser em três (4x2, 3x2).

Quando foi a minha vez, contei-lhes o que é ser americano.

Disse-lhes que torcer para o Coelho é como ganhar um relógio estragado do pai.

Aquele exato relógio do Pulp Fiction, que todo mundo enfiou no rabo e que você, o herdeiro, sabe que vai ter que enfiar também.

Confessei que, quando pequeno, quis ser atleticano, mas meu avô, olhos mareados, narrou as glórias do América no passado.

Falou dos grandes jogadores que, hoje, vão ao Independência para sofrer e lembrar dolorosamente dos dias iluminados.

Resumidamente, o velho me fez desistir da idéia do Atlético, pelo quê sou até hoje agradecido.

Mas voltando ao assunto central, a maior decepção que já tive na vida com futebol responde pelo nome de Oséias.

Todos se lembram.

Um Palmeiras que não disputava mais nada, um gol do América no primeiro tempo.

Eu pulava tanto que a minha juvenil mochila da Company abriu-se, e eu fiquei recolhendo papéis espalhados entre milhares de pernas emocionadas que comemoravam o tento americano.

Todos estávamos confiantes.

Aos 48 minutos do segundo tempo, contudo, veio o baque.

Oséias.

Estávamos rebaixados.

Vi, pela primeira vez na vida, uma quantidade expressiva de americanos chorando.

E do outro lado do campo, enxerguei meu avô, com seu eterno bonezinho.

Era a última vez que o velho ia ao Independência.

Tirou o relógio do rabo, jogou-o numa lata de lixo e me olhou seriamente, como se dissesse:

“Nem pense em fazer o mesmo. Você ainda tem muito tempo de reloginho pela frente.”

Pois bem, no último domingo a minha sogra não sabia por que eu estava deitado no sofá.

A lágrima de canto de olho não era exatamente de tristeza.

Há que se ter um relógio no cu pra entender o que é ser americano.

Sunday, February 27, 2005

O anticlássico
(Thales)

Digam o que quiserem, mas a última coisa que aconteceu hoje, no Mineirão, foi um clássico. Foi sim um coletivo pra 7 mil pagantes. Assim como Flamengo x América-RJ não é mais um clássico, exceto na cabeça do Trajano. Aliás, acho que em nenhum estado brasileiro há um clássico em que haja um América envolvido.

Poderia gastar telas e mais telas ridicularizando a atuação dos 11 do América, mas estou sem paciência para fazê-lo.

Tuesday, February 22, 2005

AVE, RODRIGO
Thales

Antes de mais nada, peço desculpas por minha prolongada ausência neste espaço, mas de dezembro a fevereiro não houve futebol e, em seguida, sofri com problemas familiares que não vêm ao caso. Sem mais delongas, vamos ao que interessa.

Hoje, Cruzeiro x Atlético (mesmo sendo atleticano, acho essa forma mais sonora que Atlético x Cruzeiro) é, sem qualquer sofisma, o maior clássico do futebol brasileiro. Nenhum outro derby leva tantos torcedores, de parte a parte, ao estádio. No domingo que passou tivemos a prova cabal disto. Um clássico que ainda vai se repetir ao menos duas vezes pelo campeonato mineiro e nada tinha de decisivo, exceto pela honra de subjugar o rival, levou mais de 60 mil pagantes ao gigante da Pampulha. Não escrevo aqui para dizer qual torcida levou mais gente a campo ou incentivou mais o time.

Tampouco me interessa escrever sobre a covardia inerente a Levir Culpi (minto, quero deixar uma coisa registrada sobre essa imprensa jeca que exalta Levir como um GRANDE estrategista e respeita suas decisões como sendo sérias e sensatas, mas fosse Zé Mingau treinador do Cruzeiro, caso dinheiro como estariam ralhando o pobre diabo pelas escolhas pra lá de infelizes e pedindo, de olhos rútilos, sua cabeça, bem como a de todos os seus familiares), ou sobre o passeio de Rubens Cardoso em Ruy (Cabeção), ou a decepção que foi ver o futebol de Athirson com a camisa azul-estrelada (a despeito de tudo que me havia sido dito), a fraca atuação de Renato, gols e lances polêmicos, ou sobre o péssimo dos péssimos (como diria José Luiz Gontijo), Jean (O Bisonho, e é assim que, daqui pra frente, este cidadão será por mim chamado). Gostaria apenas de registrar três notas sobre o match.

Primeiramente, a infinita satisfação que é ir ao Mineirão e ouvir a torcida atleticana cantar o hino do clube insandecida, antes, durante e após a peleja. A isso dão o nome de , coisa que não se vê nem em missa do padre Marcelo. Ainda agora, escrevendo estas mal traçadas, sinto eriçar os pelos do braço ante a simples lembrança de tal maravilha. Espetáculo tocante, de rara beleza, falo do lado alvi-negro, pois foi onde ocorreram as celebrações mais exacerbadas. E digo isto sem qualquer intenção de diminuir as tentativas da china azul de empurrar seus desanimados combatentes. Fato, grita quem ainda acredita, quem ganha comemora, quem perde fecha a cara e vai-se embora.

Em segundo lugar, gostaria de enaltecer a atuação do argentino Lívio Armando Prieto. Que grata surpresa, pra não dizer um caso de amor à primeira vista. A partir do vigésimo minuto a massa começou a gritar seu nome (pedindo sua entrada em campo), porém só foi atendida aos 30. COMO joga, dribles curtos, passes refinados, lançamentos precisos, não conduz a bola como quem corre com um saco de batatas às costas, pelo contrário, desfila com ela desfraldando todo seu talento. Tão íntimo da bola quanto uma prostituta das doenças venéreas. O futebol lembrou-me o de Djalminha nos áureos tempos. Em apenas 15 minutos encheu-me os olhos. E com duas ou três jogadas fez a torcida atleticana subir pelas paredes. Meu tio, que é o atual diretor financeiro do Atlético (o coitado que assina as promissórias), confidenciou-me que falam maravilhas de Prieto, que seu desempenho em campo foi módico perto do que dizem que ele faz com a pelota durante os treinamentos coletivos. Disse-me ainda que todos no C.T ficaram boquiabertos logo em seu primeiro treino no clube. Sem dúvida trata-se de um talento ímpar, já tendo, inclusive, sido campeão mundial sub-20 com a seleção argentina (2001). Quem se interessar pela ficha do rapaz, basta clicar aqui.

E, por fim, gostaria de falar sobre o personagem do jogo, Rodrigo Fabri. Confesso que faltam-me adjetivos superlativos para elogiá-lo. O mais novo rei da massa. Chuta em gol com incrível precisão (fez um gol e deu um chute perigosíssimo rente à trave esquerda do arqueiro celeste), quando carrega a bola o faz com muita velocidade, em linha reta e, o mais importante, sempre em direção ao gol, volta para marcar distribuindo carrinhos a torto e a direito, não se apequenando, mesmo diante da mais homérica intempérie. Ele realmente vestiu a camisa do galo, joga com raça e querença, como o faria um arquibaldo qualquer. Quando Fabri pega na bola faz tremer a estrutura de concreto do Mineirão. Ovacionado até em cobrança de lateral. Ao fazer o gol, correu para comemorar perto da filha (que o olhava admirada das cadeiras inferiores). E fico pensando o que passou pela cabeça dessa guria ao ver o pai ser substituído, tendo seu nome gritado histericamente por um coro de 30 mil vozes, "papai faz aniversário toda quarta e todo domingo". É o ídolo da 10 que a massa tanto esperou. Não é sem razão que, antes de cada partida, o canto da torcida é, "Olê-lê! Olá-lá! O Rodrigo vem aí e o bicho vai pegar!". Meu personagem do clássico, para ser um autêntico leão das savanas africanas, só lhe falta a juba. Ave, Rodrigo.

Friday, February 11, 2005

"CAUSOS"
Billy

Enquanto o Campeonato Mineiro não nos empolga, vamos tratando de futebol por outras vias.

O advogado meu patrão, o já famoso Dr. Assis, é ilustre cidadão de Conselheiro Lafaiete, uma cidade separada de BH por uns 100 km e um bocado de montanhas. Trata-se – o Dr. Assis e não a cidade -, assim como nós, de um fanático com o jogo e um reconhecido contador de casos, principalmente sobre futebol. Num desses dias aí me contou o seguinte, em clima de final de expediente.

Por volta de 1960, antes da construção do Mineirão, o Meridional, principal clube esportivo de Conselheiro Lafaiete, que hoje somente se dedica aos esportes amadores, veio enfrentar em BH, o então temido Clube Atlético Mineiro, pelo Campeonato Estadual.

O jogo aconteceria à noite.

Aproximadamente 40 minutos antes do jogo, quando ainda na entrada da capital, o ônibus da equipe do Meridional quebrou a caminho do Estádio (que na época ficava perto de onde hoje é a Santa Casa de Misericórdia). Sem dinheiro para pagar vários táxis pra toda a delegação, outra opção não restou à Diretoria do clube que não mandar seus soldados a pé para o campo de batalha. Estratégicos, os lafaietenses ordenaram que 07 ou 08 jogadores partissem em ritmo mais acelerado ao Estádio, para que a partida pudesse ser iniciada sem a aplicação das penas do WO.

E assim aconteceu. Os mais lépidos chegaram a tempo, de modo que o time do Meridional começou o jogo com sete ou oito jogadores. À medida que o restante do elenco foi chegando, o time titular foi se formando com os onze regulamentares.

Mas, o melhor ficou pro final da história: apesar dos percalços do caminho, trilhado a pé, o Meridional bateu o Galo por 1x0, para alegria do Dr. Assis e de todo o povo Lafaietense.


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