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Monday, June 25, 2007

DO INFERNO AO CÉU E DE VOLTA AO INFERNO, ou, O FUTEBOL, ASSIM COMO A VIDA...
Thales


O futebol, assim como a vida, é cíclico.

Antigamente jogadores permaneciam 10 anos numa mesma equipe, hoje times são montados e desmontados com a mesma velocidade que se abre e fecha a tal da janela européia. Por essa razão, em outras épocas, os ciclos eram muito mais longos, no período entre 76 e 87, a cada 10 clássicos que você fosse, o Atlético sairia vencedor em 8. O exato oposto valendo para o período imediatamente anterior, o do início da "era Mineirão". Conta o Paulo, um primo meu, que quando o Cruzeiro tinha Piazza, Dirceu Lopes e Tostão, ele, ainda pequeno, saía feliz do estádio após uma derrota no clássico, "Poxa, pai, hoje a gente só perdeu de 1 x 0".

Por que digo isso?

Por duas razões.

1 - Se até o clássico o Cruzeiro era tido como um possível candidato ao rebaixamento, e o Atlético a uma vaga na Libertadores. Agora o discurso já é outro. O Cruzeiro vai subir na competição e assumir um lugar na ponta da tabela, ao passo que o Atlético, se não vai brigar contra o descenso, não tem direito a aspirar nada além que uma vaga na Sul-Americana. Senhores, nada mudou. O Atlético nunca foi tão bom e nem o Cruzeiro tão ruim. Assim como, após a partida de ontem, o oposto não passa a ser verdadeiro. O Cruzeiro continua sendo um time ridículo em sua defesa, e o Atlético medíocre em seu ataque. O mesmo vale, por exemplo, para o São Paulo, que até duas rodadas atrás era um time questionado, sem ataque e que, agora, já é novamente o favorito à conquista do título. Com o boom dos canais esportivos e da imprensa especializada, criou-se a necessidade de vender um fato novo a cada dia, o que, para o incauto receptor, tem o valor da sagrada escritura. "O Fantasma do Rebaixamento", "Rumo à Libertadores", e por aí vai. Sendo que, na verdade, essas manchetes fantasiosas são apenas reflexos dos ciclos de cada equipe, que, num futebol nivelado por baixo, técnica e financeiramente, tendem a ser cada vez mais curtos, nada mais que isso.

2 - Antigamente, a paridade nos confrontos entre Cruzeiro e Atlético era definida por "eras", hoje é na ponta do lápis, jogo a jogo. A frase de meu primo não teria lugar nos dias atuais, mais do que nunca o resultado de um clássico é totalmente imprevisível. Digo que Cruzeiro e Atlético é o maior espetáculo da terra por dois motivos, é o único clássico em que o mandante pode ter uma torcida menor que a do visitante, como se observou ontem (além de, em geral, haver um equilíbrio entre as torcidas (exceto em casos raros), não é um jogo como GreNal, em que 90% do estádio é reservado ao mandante, é um clássico democrático), e é o clássico de maior equilíbrio no mundo, até a partida de ontem, na chamada "era Mineirão", tínhamos 71 vitórias pra cada lado e 69 empates.

E essa foi a marca do clássico, a imprevisibilidade. Ontem, após o término do primeiro tempo, fiquei extremamente feliz por não ter podido comparecer ao Mineirão. (Não me incomoda ver o Atlético perder, não vou a campo por isso, mas mata-me por dentro ver um time sem alma jogar, levar dois cocos e não dar um chute em gol, isso eu não admito). Ao fim da partida, já não pensava da mesma forma, apesar da derrota por 4 x 2. Sinto que perdi uma das batalhas mais memoráveis que o Mineirão já recebeu. Em 90 minutos fui do inferno ao céu e de volta ao inferno. Quando Araújo balançou as redes no fim da primeira etapa senti um desejo irrefreável de me deitar em posição fetal, apagar as luzes e ser deixado assim, até o fim dos tempos. Sinceramente não acreditava na virada, nem mesmo quando o Renato ouviu uma frase na fila do banheiro e veio comentar comigo, "um atleticano falou que o jogo ainda não acabou, tenho cisma com essas frases de banheiro". Mas aos 7 minutos Lima devolveu-me a esperança e arrancou-me da mais profunda escuridão. Achava que aquele gol era o lance capital da partida, se o Atlético voltara para o segundo tempo com mais ímpeto e dominava as ações, nada fazia que justificasse um tento, e seria um gol achado numa cobrança de escanteio o gás necessário para levar o time ao empate. Aos 17 o segundo gol, nem em meu sonho mais colorido eu poderia imaginar tal reação alvi-negra. Mas o destino ainda me reservava mais uma surpresa, quando Héber marcou um pênalti absurdo em Feltri (os cruzeirenses, com razão, contestam a marcação desse pênalti, mas acho que Héber aplicou a lei da compensação, por não ter marcado um pênalti em Danilinho). Caso Marcinho anotasse, abrir-se-ia o cadafalso para a equipe celeste. A história já é sabida, o lance que decidiu o clássico não foi o gol de Lima e nem terceiro gol cruzeirense, marcado por Guilherme, mas a cobrança de Marcinho. Queria eu poder dizer que a bola caprichosamente beijou a trave, sem dúvida mais poético, mas a verdade é que foi mal batido pra cacete. E certas coisas os deuses do futebol não perdoam, a maior delas, a soberba. Não apenas a de Marcinho, que achou que a bola entraria não importando como chutasse, mas a de todos os atleticanos, que acharam ter vencido o jogo no instante em que o árbitro apontou para a marca da cal.

O futebol, assim como a vida, também ensina duras lições.

Tuesday, June 19, 2007

AMÉRICA FUTEBOL CLUBE
Lessa

Tem tempo que não escrevo sobre um tema tão esotérico.

De tão impalpável, “América” já me soa como um conceito vago.

Uma idéia solta no vento.

Às vezes, olho para o escudinho alviverde e fico feliz, sem saber por quê.

Às vezes, embora também sem motivo, fico triste e solene.

“O América virou estado de espírito”, é o que penso de mim pra mim.

As pessoas que sabem que sou americano às vezes me abordam com cara de velório.

Tenho a sensação de que elas gostariam de me perguntar sobre o meu time, sobre as contratações recentes, sobre o último esquema tático adotado pelo treinador.

Mas ficam caladas, com cara de velório.

É constrangedor. Dá até vontade de consolar.

Talvez o Independência devesse virar um museu, para que pudéssemos visitá-lo em busca de tópicos sobre o América.

Eu, neste contexto, viveria apenas do passado.

Esqueceria a existência de um Ronaldinho, de um Gerrard, de um Henry.

Viraria a minha cultura futebolística ao avesso para, quem sabe um dia, conseguir escalar de memória o América de 1933.

Todo um projeto de vida, toda uma nova fruição do futebol.

Aí dava pra voltar a escrever aqui.

Por enquanto, não dá.

Já tentei escrever sobre Fórmula 1, mas me disseram que “carrinho no pescoço” era um termo figurado, nada a ver com automobilismo.

Esta foi, portanto, minha última tentativa de escrever sobre o América.

Acima, eis o que consegui depois de esforço intelectual hercúleo.

Bruto.


Monday, June 18, 2007

O PERSONAGEM DA SEMANA
Thales

Sábado passado eu assistia ao jogo entre Barcelona e Espanyol com amigos. No intervalo fui questionado sobre o provável resultado do jogo entre São Paulo x Atlético, que seria no domingo.

- Um a zero pro Galo.
- Tá louco!
- É por isso que o atleticano sofre, porque ele acredita em coisas que só ele, dentro da sua doença, é capaz de acreditar.
- Não dá pra conversar sério sobre futebol com atleticano.
- E digo mais, meu palpite é um a zero, mas eu garanto que o Atlético não perde o jogo amanhã. NÃO PERDE!

De onde vinha minha certeza, nem eu mesmo saberia dizer.

Ontem o Atlético enfrentaria o modesto Figueirense. Ao me levantar, pela manhã, consultei minha bola de cristal. Não obtive resposta. Eu fechava os olhos e não conseguia ver um placar para a partida. Em geral isso não é bom sinal. E assim me dirigi para a Pampulha, imaginando uma tarde em branco, vazia, sem gols, assim como minha bola de cristal.

Logo aos 15 minutos de jogo, Danilinho provou-me o contrário.

E, lembrando Nelson Rodrigues, faço de Danilo meu personagem da semana.

Devo confessar, um minuto antes eu quase quebrara o assento à minha frente por conta de um contra-ataque bisonhamente desperdiçado por Danilo. Praguejei contra o rapaz, insultei sua titularidade e seu pobre futebol. No lance seguinte, Coelho fez boa jogada pela direita e passou a Danilinho, que deu um corte no zagueiro e armou o chute, voltei a insulta-lo, “Não bate com a esquerda, seu merda, não acerta o gol nem com a direita”, enquanto concluía a frase, eu vi a bola saindo de seu pé numa velocidade que lembrava mais um passe que um chute, e o odiei por matar mais uma boa jogada de ataque, então, milagrosamente, a bola passa pelo goleiro e balança a rede no canto inferior direito.

Eu ainda discutia com meu vizinho de arquibancada o questionável futebol de Danilinho, quando este foi acionado no meio campo e deu um passe vertical primoroso para Galvão sair na cara do gol, o camisa 9 teve a tranqüilidade de esperar a saída do goleiro e rolar para a conclusão de Éder Luís.

(Aqui faço um parênteses, acredito que Galvão teve medo de bater em gol, rolou para Éder por ter a convicção de que não marcaria. Creio que foi covarde e acabou passando por inteligente. Tanto que, num gol posteriormente anulado, ficou novamente cara a cara com o gol e bateu em cima do goleiro. Até não discuto sua qualidade, dos homens de frente acho que é o mais técnico, só precisa recuperar sua auto-confiança nas conclusões).

E volto ao meu personagem da semana, Danilinho não fez praticamente mais nada em campo até ser substituído por Tchô (meu predileto (que entrou mal e ainda assim deu belos passes verticais, deixando os atacantes em condição de marcar por mais de uma vez)), e nem precisava, seus dois lampejos foram decisivos para o resultado final de 4x1, não apenas na construção do placar em si, mas sobretudo pela tranqüilidade que o placar favorável deu para equipe jogar de maneira impetuosa e arrasadora.

Se ainda sou um crítico de seu futebol, o mesmo não posso dizer de sua estrela, que, pelo menos ontem, brilhou intensamente e acendeu a bola de cristal de todos nós atleticanos.

Thursday, June 07, 2007




Tricolor gaúcho: Finalista da Libertadores contra o Boca Juniors, que em La Bombonera, contou com a presença de Don Diego. The Godfather.



TRICOLOR DAS LARANJEIRAS: CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL.
Billy, ou, na verdade, Nelson


Como uma homenagem ao Tricolor da Laranjeiras, campeão da Copa do Brasil: Nélson, o pó de arroz por excelência. Talvez o maior tricolor de todos os tempos.

“O que vemos na cidade é uma loucura. Conheço um pó de arroz que, há três anos, tentava a conquista de uma senhora inatacável e, mais do que inatacável, inexpugnável. Mas o meu conhecido tinha a obstinação dos grandes amores. Todos os dias, havia este diálogo, pelo telefone. Dizia ele, incendiado: 'Eu te amo, te amo e te amo!' Ao que respondia a inconquistável: 'O problema é seu. Eu amo meu marido.' E ele: 'Espero'. A outra ironizava: 'Quanto tempo?' E o desgraçado: 'Seis mil anos'.

Tamanha paciência deslumbrou a jovem e bela senhora. Dispôs-se a considerar a hipótese do pecado, com relativa boa vontade. O pior vocês não sabem: o marido da musa trabalhava em casa, como ourives. E não concedia à mulher os dez minutos do cafezinho da anedota.

Até que no meio da semana, ela bate o telefone: 'Vamos ter uma oportunidade. Meu marido vai ao jogo domingo.' Há uma pausa. Ele pergunta: 'E seria durante o jogo?' Exatamente, durante o jogo. O outro foi implacável: 'Mas eu também vou ao jogo'. E, como ia ao jogo, como bom pó de arroz, teriam que adiar o pecado. 'Você acha o jogo mais importante do que eu?' Foi taxativo: 'Para mim, o Fluminense está acima de tudo. Não perco este jogo nem a tiro'. E ali morreu o amor imortal.”

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“Os paus d´água andavam dois passos na calçada, e caíam, rente ao meio-fio, com a cara enfiada no ralo. E, por toda a cidade, o nome do nosso clube. De vez em quando, um desconhecido dava o berro: - “Fluminense!” Durante muito tempo ficava no ar, o grito em flor. Realmente, por hoje, o meu personagem da semana é o time do Fluminense. Ninguém acreditava no Tricolor. Mais uma vez, os entendidos entraram por um cano só comparável ao da Copa do Mundo. O resultado é que o Fluminense teve uma vitória, vitória, sim, nunca houve um final tão solidário, tão irmão, que foi um momento de eternidade.”

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“Melhor mesmo, acima de qualquer dúvida ou sofisma, é o Fluminense. Tudo, no triunfo tricolor, foi perfeito irretocável. A começar pelo escore. Vitor Hugo havia de enternecer-se ante a frugalidade do marcador: - 1x0, nada mais, nada menos. Graças a Deus, o Fluminense não tem a vaidade estúpida da goleada.”

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"Amigos, a humildade acaba aqui. Desde ontem, o Fluminense é o campeão da cidade. (...)
E cada tricolor, ao sair do estádio, podia cair abraçado num nome: - Fluminense. Fluminense. Fluminense.”


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